Cristã absolvida por caso de blasfêmia deixou o Paquistão

por Joás Inacio Vieira - Publicado em 09 de maio de 2019

Asia Bibi, condenada à morte por blasfêmia que em 31.10.2018 foi absolvida pela Corte Suprema do Paquistão, já está no Canadá, onde se reencontrou com sua família. Conforme confirma seu advogado Saif Ul Malook.

Fonte: AFP.com | 08/05/2019 (adaptado)

Ashiq Masih e filha Eisham Ashiq (CNS photo/Simon Caldwell) Oct. 7, 2018.

A cristã Asia Bibi deixou o Paquistão – informou uma fonte do governo, nesta quarta-feira (8), mais de seis meses depois de ser absolvida de uma condenação à pena de morte por blasfêmia, caso que provocou indignação no exterior.

Enquanto várias fontes, entre elas a primeira-ministra britânica Theresa May, insinuaram que Bibi partiu para o Canadá, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau não quis confirmar a informação.

“Há questões de privacidade e de segurança relacionadas ao caso. Por isso não posso fazer comentários”, disse Trudeau a jornalistas.

Em novembro, o primeiro-ministro havia indicado à AFP que estava “discutindo com o governo do Paquistão” sobre Asia Bibi.

Mais cedo, uma fonte paquistanesa, que pediu anonimato, afirmou que “Asia Bibi deixou o Paquistão por vontade própria”.
A imprensa paquistanesa já havia antecipado a informação durante a manhã.

O advogado de Asia Bibi, Saif Ul Malook, disse que não falou diretamente com a cliente, mas que, após uma conversa com suas “próprias fontes”, deduziu que ela está no Canadá, país para o qual suas filhas fugiram há vários meses, segundo fontes diplomáticas.

As autoridades paquistanesas e a embaixada canadense em Islamabad não se pronunciaram oficialmente sobre seu destino, nem sobre as condições de saída do país.

Autoridades e Associações pelo mundo comemoram:

A primeira-ministra britânica Theresa May insinuou na Câmara dos Comuns que Asia Bibi viajou para o Canadá.

“O Canadá fez essa proposta e consideramos que era apropriado apoiá-la”, afirmou.

Em comunicado, o chefe da diplomacia americana, Mike Pompeo, afirmou que “os Estados Unidos receberam com agrado a notícia que Asia Bibi se reuniu de maneira segura com a sua família (…) Está livre”.

A cristã foi condenada à morte por blasfêmia em 2010, após uma discussão por um copo de água.

Alegando motivos religiosos, duas muçulmanas se negaram a compartilhar um copo de água com ela. As três discutiram. Alguns dias mais tarde, contaram o caso a um imã local, que acusou Asia Bibi de ter “insultado” o profeta do Islã. Ela sempre negou a acusação.

O caso se tornou um símbolo dos desvios da lei sobre a blasfêmia no Paquistão, onde os críticos afirmam que o texto é utilizado para solucionar conflitos pessoais mediante acusações falsas.

“É um grande alívio que esta experiência dura e vergonhosa tenha terminado finalmente e que Asia Bibi e sua família estejam a salvo”, declarou o vice-diretor para o sul da Ásia da Anistia Internacional, Omar Waraich.

“Ela nunca deveria ter sido detida, muito menos sofrer ameaças constantes”, completou Waraich, que pediu a “revogação” da lei sobre blasfêmia no Paquistão.

O Tribunal Supremo, principal instância judicial do país, a absolveu em outubro de 2018. Asia Bibi passou mais de oito anos no corredor da morte.

A absolvição provocou atos violentos em várias cidades do país.
Milhares de islamitas bloquearam durante três dias as principais estradas do país para exigir a morte de Asia Bibi por enforcamento.

Em janeiro, o mesmo tribunal reafirmou sua decisão e rejeitou qualquer recurso contra a absolvição de Bibi, uma trabalhadora agrícola de 50 anos.

Desde então, Asia Bibi supostamente estava sob vigilância. Islamabad não revelou em que condições ela vivia nos últimos meses.

O caso de Asia Bibi provocou uma onda de indignação em todo o planeta.
Uma de suas filhas se encontrou com os papas Francisco e Bento XVI para falar sobre a situação.

No Twitter, o ministro britânico das Relações Exteriores, Jeremy Hunt, comemorou que Asia Bibi “parece ter saído do Paquistão sã e salva”.

“Asia Bibi está, enfim, livre”, reagiu a Associação de Cristãos Britânicos de Origem Paquistanesa (British Pakistani Christian Association).

“A vítima mais conhecida da lei paquistanesa sobre a blasfêmia foi finalmente libertada em seu país natal, onde se tornou uma figura odiada, apesar de os tribunais a inocentarem das acusações falsas, pelas quais permaneceu em uma cela de isolamento durante quase 10 anos”, acrescentou a associação em um comunicado.

Os cristãos representam quase 2% da população paquistanesa, em sua grande maioria muçulmana.
De modo geral, vivem em bairros pobres e têm empregos mal remunerados.