Sudão volta a prender cristã um dia após livrá-la da pena de morte

por Joás Inacio Vieira - Publicado em 28 de junho de 2014

Nova detenção de sudanesa convertida ao cristianismo provoca crise diplomática

CARTUM (Reuters) – Autoridades sudanesas voltaram a deter uma mulher cristã nesta terça-feira horas depois de livrá-la da pena de morte por abandonar o Islã para se converter ao Cristianismo.
Não ficou claro por que Mariam Yahya Ibrahim foi detida enquanto tentava embarcar em um voo no aeroporto de Cartum, mas seu advogado disse que ela deve ser solta na quarta-feira.
Uma autoridade de segurança que confirmou a prisão afirmou saber a razão do ocorrido. Dois diplomatas disseram que Ibrahim, seu marido e duas crianças estavam tentando ir para os Estados Unidos via Cairo ou Juba. Os quatro foram detidos.

Mariam Ibrahim, de 27 anos, foi solta na segunda-feira por um tribunal de apelação, que cancelou sua pena de morte depois que o governo passou a sofrer o que chamou de pressão inédita.
Após a sua libertação, ela foi enviada a uma localidade secreta para sua proteção, já que a família relatou ter recebido ameaças.
A embaixada dos EUA em Cartum afirmou em um breve comunicado que estava ciente da nova detenção de Ibrahim, que estava em contato com a família dela e monitorando a situação de perto.
O Sudão convocou os embaixadores dos Estados Unidos e do Sudão do Sul depois da nova detenção da cristã que estava tentando voar para os Estados Unidos com sua família após ser liberada da prisão, onde aguardava cumprimento da pena de morte, informou o serviço de segurança do Estado nesta quarta-feira.
Mariam Yahya Ibrahim foi libertada na segunda-feira depois que um tribunal de apelações anulou a sentença de morte – imposta por ela ter renunciado ao islamismo para se converter ao cristianismo e assim se casar com um homem cristão, depois que o governo ficou sob o que chamou de pressão internacional sem precedentes.
Mas Mariam foi novamente detida na terça-feira ao tentar usar documentos emitidos pela embaixada do Sudão do Sul para sair de Cartum com o marido, que é norte-americano e sul-sudanês, e seus dois filhos -, aprofundando a disputa diplomática sobre seu caso.
O Sudão não a reconhece como cidadã sul-sudanesa porque, apesar da suspensão da sentença, seu casamento com um cristão não é reconhecido, já que não é permitido sob as leis islâmicas aplicadas no Sudão, onde a maioria da população é muçulmana sunita.
O Sudão do Sul, onde a maioria da população é cristã, tornou-se independente do Sudão após um referendo em 2011, que acabou com anos de guerra civil.
“A polícia do aeroporto apreendeu o passaporte de Abrar depois que ela apresentou os documentos de viagem de emergência emitidos pela embaixada do Sudão do Sul e um visto norte-americano”, disse o Serviço Nacional de Inteligência do Sudão e o departamento de mídia dos Serviços de Segurança, no Facebook, referindo-se a Mariam pelo seu nome muçulmano.
“As autoridades sudanesas consideram (a ação) uma violação criminal, e o Ministério das Relações Exteriores convocou os embaixadores norte-americano e do Sudão do Sul.”
O advogado dela, Mohaned Mostafa, disse à Reuters que Mariam foi acusada de forjar os documentos de viagem. Sob o código penal do Sudão, forjar um documento é punível com até cinco anos de prisão.
Nesta quarta-feira ela ainda estava sendo mantida em uma delegacia de Cartum, onde passou a noite com a família, que se recusou a sair sem ela, disse Mostafa.
Seu caso provocou clamor internacional e foi acompanhado de perto por Washington e Londres, que no mês passado, convocaram o Sudão para protestar contra sentença de morte inicial de Mariam e exigir que o país cumpra suas obrigações internacionais sobre a liberdade de religião ou crença.
Em Washington, o Departamento de Estado dos Estados Unidos disse na terça-feira que a embaixada norte-americana está “altamente envolvida” no trabalho com a família e com o governo sudanês para resolver a questão.
“O governo nos deu garantias sobre a sua segurança”, disse a porta-voz do Departamento de Estado Marie Harf a repórteres. “Estamos negociando diretamente com as autoridades sudanesas para garantir sua saída segura e rápida do Sudão.”
Os Estados Unidos impuseram sanções econômicas ao Sudão em 1997 por acusações de violações dos direitos humanos. As sanções foram intensificadas em 2006 devido às ações de Cartum em seu conflito com rebeldes na região ocidental de Darfur.

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Assista ao vídeo:


(Reportagem adicional de Arshad Mohammed, em Washington, e Odera Carlvins em Juba; Reportagem de Yasmine Saleh, no Cairo) de reuters.com

Tradução e adaptação: Joás Inacio